Luanda sem electricidade

A corrida em Luanda ao abastecimento de combustíveis para geradores, face aos cortes diários de várias horas na electricidade na rede pública, está a gerar filas intermináveis. É a capital do reino (Angola) de José Eduardo dos Santos no seu melhor.

Com bidões de cinco a vinte litros, a população de Luanda concorre em pé de igualdade com as viaturas nas bombas de combustíveis, suportando filas de até quase uma hora para conseguirem gasóleo e gasolina para abastecer geradores, conforma se constatou na capital angolana nos últimos dias.

“No meu caso compro apenas cinco litros, embora não chegue para abastecer por completo o gerador. Diariamente estou a gastar 1.000 kwanzas [seis euros]. São cortes diários, ontem não tivemos sequer energia. Agora é assim todos os dias, daí que espere estas horas nas bombas, para suportar esta enchente”, desabafou João André, ao fim de vários minutos na fila para comprar gasolina.

As autoridades angolanas justificam os constantes cortes de energia em Luanda pela retenção de água para o enchimento da albufeira da barragem de Laúca, na província angolana de Malanje, processo que arrancou hoje na presença do presidente angolano, José Eduardo dos Santos, prolongando-se por três meses.

O projecto hidroeléctrico de Laúca custou aos cofres do Estado angolano cerca de quatro mil milhões de euros, para produzir, até final do ano, 2.067 MegaWatts para Luanda e a zona norte do país.

Face à diminuição da produção hidroeléctrica, ao défice de produção no país e enquanto aquela que será a maior barragem de Angola não em funcionamento, os cortes continuam a desesperar a população.

“Gasto 6.000 kwanzas [34 euros] para comprar 47 litros de gasolina só para abastecer e manter em funcionamento o gerador”, explica Bernardo José, fazendo contas aos últimos dias.

Só para conservar os frescos no frigorífico, Ricardo Jorge, outro morador em Luanda, está a gastar diariamente 2.400 kwanzas (14 euros) na compra de 15 litros de gasóleo para o gerador.

“A energia está mal, às vezes vem por volta das 16h00 e às 18h00 vai. Com os frescos na arca que temos de conservar, estou praticamente aqui nas bombas todos os dias”, desabafou.

A par de combustível, os cidadãos em Luanda estão igualmente a procurar peças novas para voltarem a pôr a funcionar os geradores, cenário visível nos mercados informais do município do Cazenga, um dos maiores de Luanda.

Isso mesmo também contou Daniel Kuzola, que teve de recorrer ao gerador que “há meses” não utilizava.

“Estive descansado que o meu gerador ainda funcionava, mas quando procurei ligar dei conta que o motor de arranque estava com problemas de bombear o combustível. Daí que vim cá nos armazéns à procura de um novo motor”, explicou.

Uma procura que também se regista nalgumas lojas de geradores do centro da cidade, segundo relatou um dos gerentes.

“A procura aqui é mais de peças de geradores e não de novos geradores, são pessoas que já têm geradores em casa, muitos dos quais avariados e devido à falha de energia, então recorrem aqui na busca desta ou daquela peça para substituírem as antigas”, admitiu António Martins.

Lusa

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